Petralhas X Coxinhas

Creio que o país está passando por uma prova da sua democracia, com um acirramento brutal de posições que forçam todos a serem classificados ou como coxinha ou petralha.

Se você fala qualquer coisa que desagrade um time ele logo lhe joga no outro, independente do que você pense ou tente argumentar. Não há discussão racional, pois no mínimo comentário que o outro ache tendencioso, vem a sentença: você é a favor dos petralhas ou dos coxinhas.

A coisa mais preocupante é que o país está parado enquanto estamos vivendo esta briga.

Uma coisa emergiu dessa nova situação do país: os militantes de direita estão se expressando! Também como na esquerda temos desde os mais moderados até os radicais, que graças a Deus são minoria, que pedem a volta dos militares. Uma massa grande de eleitores conservadores se organizam e se expressam. Mobilização não é mais monopólio da esquerda.

A questão é mais complexa e só o distanciamento histórico vai nos conceder o poder da revelação dos dias que vivemos. A simplificação de coxinhas e petralhas não traduz todo o espectro dos eleitores brasileiros hoje.

Tem gente de esquerda que é contra a corrupção, vê a incompetência do governo, mas é contra a retirada da presidente sem uma prova de crime de responsabilidade. Não podemos chamá-los de petralhas.

Tem conservadores que votaram na Dilma e se sentiram traídos, estão de boca aberta com os escândalos e não querem a volta dos militares, mas querem que este governo saia, por absoluta incompetência. Não podemos chamá-los de coxinhas.

Fatos porém são fatos!

Que a Dilma se elegeu mentindo, é fato. Todavia, qual político não mente para se eleger? Ela está pagando por isso , pois chamava qualquer tentativa da oposição de apontar a crise que caminhava a passos largos de catastrofismo! Vendeu uma mentira e após a eleição começou a trilhar a realidade. Mais de 40% não votou nela e ela foi perdendo os seus próprios eleitores, chegando hoje a uma aprovação de menos de 10% da população!

Que a oposição começou a obstruir e votar pautas-bomba para o governo, também é fato. O máximo foi ver o PSDB votar pela derrubada do fator previdenciário que ele mesmo, quando governo, colocou em prática. Importante destacar que o PT foi assim no governo do PSDB e portanto, chumbo trocado não dói. Nãoi dói para eles, mas a população é quem paga o pato.

A questão é que não estamos encontrando saída.

Nas ruas a intolerância é evidente e a incapacidade de diálogo está cada vez mais forte.

Não há dúvidas também que a grande maioria da população está contra este governo, seja pelas mentiras, seja pela incompetência, seja pela crise concreta que cada um agora enfrenta, seja por fatores externos e pelos internos. Agravando a situação temos todo dia notícias que revelam a podridão da corrupção, com a Petrobrás no centro dessa.

O problema é que só se pode retirar um governo com dados concretos de crime, que até agora não apareceram, mas a cada dia ficam mais próximos. Depor a presidente sem crime de responsabilidade será uma temeridade, com consequências imprevisíveis. Caso a saída seja legal, todavia, resta ainda também saber o que virá depois.

Se não aparecer evidências de envolvimento da Dilma, poderemos ter um governo fraco até 2018 e isso será grave para o país, que precisa de ações para retomar o crescimento e sair da crise. A entrada do Lula como um super ministro pode mudar um pouco o quadro, se ele conseguir rearticular a base aliada, o que é muito difícil. É importante notar que parte da desarticulação da base aliada decorreu da limpeza que a Dilma fez em alguns orgãos e que a lava jato empurrou mais ainda, mudando os cargos em comissão e as “comissões”.

A nomeação de Lula também causa polêmica, pois o mesmo assumiu em meio a denúncias de desvio de finalidade, com sua nomeação dando pinta de fuga do crivo do juiz Sérgio Moro. Apesar dos excessos do juiz, não podemos negar que a operação Lava-jato está trazendo mais benefício do que prejuízos a nação. Que o país seja passado a limpo.

Uma saída sem prova de crime de responsabilidade, vai ser complicado, como já afirmei.

Caso seja descoberto um elo de ligação da Dilma com algum crime de responsabilidade o que podemos enfrentar? Impeachment ou renúncia, com a subida de Temer. O mesmo enfrenta no TSE o mesmo processo que enfrentaria a Dilma, com possibilidade de cassação do mandato.

Claro que pode haver um arranjo para sustentabilidade de Temer, mas certamente o PT seria a oposição e não será tranquilo.

Cassando Temer este ano, assume Eduardo Cunha para convocar eleições diretas, imagine isso!. Se a cassação for em 2017, teremos eleições indiretas pelo congresso nacional, que consegue ter uma avaliação pior do que a presidente Dilma!!!

A verdade é que estamos numa enrascada, fruto da impossibilidade de construção de uma maioria política com credibilidade na sociedade. Os atuais atores como Dilma, Lula, Temer, Aécio, Alckmim, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e os atuais partidos políticos, todos, digo com ênfase, todos, não conseguirão uma maioria política e com apoio popular.

Não imagine ter sossego somente com a saída de Dilma do poder. Na sequência iríamos assistir o mesmo impasse, mas com os atores atuando em trincheira diferente.

Não acredito que alguém em sã consciência imagine que a corrupção acabará com a saída de Dilma e do PT. Alguns Petistas merecem punições, pois realmente são responsáveis pela corrupção na Petrobrás, que não nasceu agora, mas “floresceu” muito com eles.

Lembrando que a ética é uma coisa que muitas vezes queremos e exigimos que o outro possua, entretanto é fácil ver gente comprando produto contrabandeado, passando no sinal vermelho, parando o carro em vaga de idoso e deficiente, sonegando imposto, furando fila, jogando lixo na rua, enfim se comportando no seu dia a dia de forma bem inadequada e buscando tirar vantagem individual e contra a vida em sociedade. Mudar o mundo significa começar mudando nós mesmos. Se cometemos alguns deslizes, fica difícil querer apontar o dedo. No entanto, o combate a corrupção deve ser permanente e combater a impunidade é obrigação. Vamos mudar o mundo! Comecemos por nós mesmos. Tolerância zero conosco.

É difícil saber onde iremos parar, mas precisamos sair da radicalidade e buscar a racionalidade, perseguir onde podemos ter convergências, pois esta guerra de Petralhas versus Coxinhas não apontam saídas.